quarta-feira, agosto 02, 2017

Mais Ruminações Sobre o Arduino

Nestes últimos dias tivemos dois notícias que podem afetar o ecossistema do Arduino: o fim do Arduino 101 e a mudança do controle acionário da Arduino AG. Divago aqui sobre estes acontecimentos e suas consequências.


Nos Capítulos Anteriores....

A história do Arduino começou com um projeto chamado Wiring, feito por Hernando Barragán. Massimo Banzi (seu orientador neste projeto), David Cuartielles, David Mellis, Tom Igoe e Gianluca Martino fizeram um fork e adotaram o nome Arduino. Os cinco criaram a empresa Arduino LLC e Gianluca Martino criou a Smart Projects que ficou responsável pela fabricação das placas.

Sem o conhecimento dos demais sócios, Martino registrou a marca Arduino na Itália. A coisa pegou fogo quando os demais sócios se interessaram por fabricar placas fora da Itália. A Smart Projets nomeou um novo CEO, Frederico Musto, mudou o nome para Arduino SRL, abriu a página arduino.org e os advogados ligaram os taxímetros.A Arduino LLC firmou parceria para produção das placas no EUA (onde tinha a marca Arduino), adotou o nome Genuino para o resto do mundo e lançou o Arduino 101 em parceria com a Intel. As duas empresas lançaram versões divergentes da IDE do Arduino.

Após muita briga, em outubro do ano passado, as duas empresas anunciaram a fusão. Com isto criaram a Arduino AG, com o Frederico Musto como CEO e a promessa da criação de uma fundação para assumir o software.

O Fim do Arduino 101

A Intel anunciou em junho a descontinuação das placas Galileo e Edison. No final de julho caiu o outro sapato - a descontinuação do módulo Curie, que é o coração (ou cérebro?) do Arduino 101. Com isto a Intel se afasta do chamado "mercado maker", que cortejou de forma bem agressiva de 2013 a 2015.

Na minha visão o Arduino 101 era uma parte importante da estratégia da Arduino LLC. O próprio nome sugere que a expectativa era este ser o modelo de entrada (101 é como os americanos se referem aos cursos introdutórios nas universidades). Com o fim do 101 o modelo básico volta a ser velho Uno, que é uma suave evolução dos primeiros Arduinos.

A Mudança Acionária

No mais recente lance desta novela italiana, os sócios originais, menos o Gianluca Martino, criaram mais uma empresa, a BCMI, que adquiriu o controle da Arduino AG. Com isto Martino e Musto saem de cena e Banzi passa a ser o Chairman e CTO da Arduino AG e entra um novo CEO, Fabio Violante (sobre o qual não encontrei muita coisa).

O anuncio no blog do arduino .cc fala no início de uma nova era.  Me parece cedo para falar isto. Afinal, o controle continua com quatro dos cinco fundadores do Arduino. A tal fundação para cuidar do sofware não se concretizou. Após a longa gestação da versão 1.6 da IDE, as últimas versões se concentraram na correção de bugs. O resultado não é muito elogiado pela comunidade.

Continua a Busca pelo Sucessor do Uno

No lado do hardware, a grande aposta com o Arduino 101 virou um mico.

Ao longo dos anos vários modelos foram lançados como sucessores do Uno. O Leonardo não tem grandes diferenças e nunca caiu nas graças do público. O Arduino DUE possui um processador de respeito, mas sofreu com a incompatibilidade com os shields de 5V e a demora da inclusão na versão principal da IDE. O Zero e o M0 usam processadores ARM e tem o formato do Uno, mas seus lançamentos foram ofuscados pela batalha entre as duas empresas. O Arduino TRE parecia um projeto interessante (um misto do Uno com a Beagleboard), mas sumiu antes de ter o preço anunciado.

Valida ou não, o Arduino sofre com a comparação com placas como a Rapberry Pi que combinam os recursos do Linux (principalmente a conectividade com a internet) com os de um microcontrolador e com o ESP8266 que oferece conexão WiFi a baixo custo. A solução atual do Arduino para WiFi (fora a cara, limitada e desajeitada shield) são as variações do Yún, que possui uma integração baixa entre o lado WiFi e o lado microcontrolador e costumam ter a sua classificação como Open Hardware questionada.

Nenhum comentário: