domingo, abril 28, 2013

Resenha: Korolev

No final dos anos 50 e início dos anos 60 a União Soviética surpreendeu o mundo com seu pioneirismo em foguetes: o primeiro míssil balístico intercontinental, o primeiro satélite artificial, o primeiro homem em órbita e muitos outros. No centro destes avanços estava um homem, Sergei Pavlovich Korolev. Korolev ("How one man masterminded the Soviet drive to beat America to the moon") é uma biografia deste homem, escrita por James Harford.




Korolev

Korolev é certamente uma figura bastante interessante. Interessou-se por aviação ainda criança e por foguetes no começo de sua carreira de engenheiro. Se destacou tanto pelo seu conhecimento técnico como sua capacidade de liderança e gerenciamento (o que inclui a complicada tarefa de obter apoio e recursos financeiros para os seus projetos)

Nas vésperas da segunda guerra é uma das vítimas dos expurgos de Stalin, passando um ano em um campo de trabalhos forçados na Siberia (um dos terríveis gulags). Posteriormente foi enviado para um centro onde condenados com reconhecidas capacidades técnicas eram colocados para trabalhar em condições menos precárias (sharaga).

Apesar de tudo isto, o patriotismo de Korolev permaneceu inabalado. Tanto que continuou na sharaga de Kazan por um ano após o fim da sua pena. Posteriormente foi convocado para o Exécito Vermelho e enviado como parte do grupo que investigou as fábricas de V-2 na Alemanha, obtendo assim a base de várias tecnologias que seriam utilizadas no programa espacial.

Sua paixão e dedicação ao trabalho colaboraram para ter um personalidade complexa. Se por um lado berrava e xingava subalternos que cometiam erros, por outro mostrava atos de extrema bondade (como um episódio relatado no livro onde se preocupa em garantir a subsistência da família de um trabalhador morto em uma das fábricas). Embora seguisse todos os necessários rituais em torno do Partido, algumas das suas técnicas gerências me pareceram ter caráter pouco socialista, como as régias premiações aos funcionários que se destacavam.

Em 1957, já oficialmente reabilitado das acusações, lidera a equipe que desenvolvei o primeiro míssil balístico intercontinental. Um feito que poderia tê-lo levado à fama, não fosse a paranoica soviética. Korolev seria simplesmente conhecido como o anônimo "Projetista Chefe" até a sua morte em 1966, quando, de uma forma totalmente incomum, teve o seu nome e feitos divulgados e um enterro com honras de estado no Muro do Kremlin.

A maior parte do livro acompanha os esforços espaciais russos. Para complicar, Korolev era responsável por projetos dispersos, como as viagens tripuladas (cuja meta era enviar um homem à Lua), os satélites de exploração da Lua e Marte, os satélites de comunicação e os não menos importantes satélites espiões.

Korolev tinha também que enfrentar opositores e concorrentes, nem sempre conseguindo o apoio completo do governo. Por restrições de orçamento e tempo, Korolev adota o N-1 como lançador para as missões tripuladas à Lua. O N-1 utiliza nada menos que 30 motores em seu primeiro estágio; este motores se mostraram pouco confiáveis e o sistema de controle do conjunto um desastre. As quatro tentativas de lançamento do N-1 fracassaram; na pior delas (pouco antes do lançamento da Apollo 11) a base de lançamentos é destruída de tal forma que só volta a operar dois anos depois.


O Livro

A paranoia soviética fez com a maior parte do passado seja considerado segredo de estado, mesmo após o fim da União Soviética. O livro foi escrito no final dos anos 90 e aproveita os ventos da Glasnot. O autor realizou várias visitas à USSR, entrevistou familiares e colegas de Korolev, consultou a documentação disponível e tentou (nem sempre com sucesso) acesso a outros documentos. O livro descreve vários eventos que não fazem parte da história oficial (particularmente os lançamentos e missões fracassados), mas já vi referências a fatos omitidos no livro (provavelmente por só terem sido descobertos depois).

É uma obra de cunho mais acadêmico, sem a "romantização" presente nas biografias "best-sellers". Eu particularmente me perdi um pouco com as dezenas de personagens secundários, com os seus nomes russos que embaralham na minha cabeça.

O livro perde o ritmo e o foco com a morte de Korolev (que é um acontecimento também complexo e bem analisado pelo livro). Um capítulo relata de forma bem sucinta os feitos seguintes. O "herdeiro" de Korolev, que não tem as mesmas aptidões gerenciais, se vê à frente de um cronograma inviável, fracassa em tentativas desesperadas de ganhar a corrida até a Lua e acaba demitido. O seu sucessor é um antigo oponente de Korolev, que encerra o projeto do N-1. A partir daí o livro apenas menciona alguns dos fatos seguintes de exploração espacial por russos e americanos.


Veredito

Se você se interessa pela história da exploração espacial , leia.

Se você está procurando uma leitura leve e romanceada, fuja.


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