terça-feira, julho 07, 2009

Windows Vista: Divagações Sobre Um Não-Desastre

Agora que estamos chegando próximos ao lançamento do Windows Seven, gostaria de divagar um pouco sobre o Vista. Muitos consideram o Vista um desastre; eu não chego a tanto.

É indiscutível que o Vista é um dos sistemas operacionais da Microsoft de pior aceitação por parte de empresas e usuários (embora MSDOS 4, OS/2 1 e 2 e Windows Me estejam bem contados neste ranking sinistro). Piadas, ironias e discursos irados estão em todos os cotovelos dos "tubos" da internet.

Mas é o Windows Vista Um Desastre?

O Vista certamente se encaixa na categoria de projetos que estouraram prazo e orçamento e não implementaram as funcionalidades previstas.

Mas o Windows Vista foi liberado para os usuários. Somente este fato já o coloca na frente de muitos outros projetos (uma estimativa educada é que 30% dos projetos de TI são cancelados ou abandonados).

No caminho foram abandonadas várias funcionalidades, mas o corte de funções é a única forma garantida de reduzir o prazo de desenvolvimento, principalmente para um projeto que está saindo do controle.

Embora existam muitas reclamações dos usuários, são raras as menções a perda de dados. Os problemas mais relatados se referem a usabilidade, compatibilidade, performance e falta de suporte a hardwares antigos.

A rejeição ao Vista não causou uma corrida em massa para Linux ou Mac. A principal alternativa adotada tem sido o XP. Os fabricantes de micro deram algumas pequenas esperneadas mas seguiram firme fornecendo os micros novos com o Vista.

O Que Deu De Errado?

Experts e palpiteiros tem opinado sobre o que deu de errado no desenvolvimento do Vista. Três teorias que considero interessantes são as seguintes:
  • Erik Sink pondera que o Windows é um produto que ficou pronto e não precisava de novas versões. Eu discordo. Novos recursos tem surgido no hardware e novos usos para computadores continuam surgindo; os sistemas operacionais precisam evoluir para suportá-los.
  • Uma outra teoria (cujo link não consegui recuperar) é que um líder da divisão Windows só aguenta três versões: uma recuperação de uma mau produto, um bom produto e um mau produto (quando a liderança já está exausta). Me parece um pouco forçado, mas pode ter algum fundamento.
  • Joel Spolsky defende há tempos a teoria de que existem dois grupos em luta na Microsoft: o que prioriza a compatibilidade e o que prioriza a evolução. E que o segundo ganhou a luta na virada do século. Esta é a teoria que acredito explicar a maior parte do problema.
É claro que não são exatamente dois grupos em luta. Todo desenvolvedor enfrenta internamente decisões entre compatibilidade e aperfeiçoamentos. Na manutenção do Windows estas questões são bem mais críticas que na maioria dos softwares, basta ver os relatos no blog de Raymond Chen.

Dada a hegemonia da Microsoft, seria de se esperar que ela fosse extremamente conservadora. Manter o núcleo dos produtos e apenas mudar algumas cores e ícones, acrescentar algum acessório a mais e chamar o resultado de uma nova versão.

O surpreendente, portanto, é que a Microsoft decidiu se aventurar no Vista e mexer mais profundamente no Windows. No centro da maioria das reclamações estão mudanças em tradições antigas da Microsoft, visando aumentar a segurança do sistema.

O Sucesso (até agora) do Windows Seven

Quando o Vista finalmente saiu, alguns anunciaram que era o fim do Windows, que a Microsoft não conseguiria reunir forças para lançar novas versões. E no entanto muito rapidamente surgiu o primeiro beta do Windows Seven, que vem sendo saudado como rápido, estável, etc.

Uma boa fonte sobre o que foi feito no Seven é o blog Engineering Windows 7. Apesar de infelizmente o texto final parecer ter saído de marketing-droids fica claro uma coisa: o Seven é um ajuste do Vista. Foram feitas otimizações, arestas foram polidas, mas nenhuma mexida profunda foi feita. Isto mostra que as fundações do Vista são sólidas.

É claro que o Seven se beneficia também do tempo desde o lançamento do Vista. Os micros são mais rápidos e com mais memória, muitas placas e acessórios antigos já foram para o lixo e os novos já vieram com drivers para Vista.

Pode-se perguntar: não teria sido melhor a Microsoft segurar o lançamento do Vista, fazer estes ajustes, e lançar direto o Seven? Não me parece que isto teria sido possível pois:
  • O projeto já tinha durado de mais. "Chutar" o Vista para fora deve ter dado um respiro psicológico vital para a equipe do Windows.
  • O Vista em campo fornece realimentação e informação muito melhor que qualquer beta teste. Um beta teste pode ser eficaz para detectar bugs, mas é tipicamente feito por fãs que podem não ser críticos o suficiente com questões de usabilidade. Isto é também um alerta para o Seven.
  • O uso do Vista força as pessoas a abandonarem as práticas que são mais suportadas. O Seven vai manter muitas coisas que foram motivo de resmungo nos primeiros seis meses a um ano do Vista.
  • A presença do Vista em campo força os desenvolvedores a fazerem os acertos para resolver os problemas de compatibilidade.
Meu Veredito

Apesar de várias falhas e erros, o Vista não chega a ser um desastre. A Microsoft conseguiu domar um projeto que fugia do controle e liberá-lo com qualidade suficiente para não enfurecer demais os clientes. E ainda encontrou forças para fazer posteriormente uma quantidade suficiente de ajustes para torná-lo atraente.

Ainda é muito cedo para saber se o Seven receberá da maioria dos usuários a mesma recepção que tem obtido no beta teste. O Seven manterá uma série de mudanças em relação ao XP e versões anteriores; se o ganho na segurança compensará os desconfortos só o tempo dirá.

Um comentário:

Ricardo Oneda disse...

O principal concorrente do Vista, como você disse, foi o XP, que estava estável há um bom tempo. O Windows 7 tem o Vista como base, fazendo com que ele tenha a vantagem de não ter muitas das incompatibilidades que o Vista enfrentou, principalmente em relação aos drivers. Além disso, as expectativas em relação ao Vista eram muito grandes, isso por causa do que havia sido prometido pela Microsoft e também pelo fato do grande período de tempo que havia se passado desde o lançamento do XP.