sábado, janeiro 14, 2006

Maigret

Descobri neste começo de ano que a editora L&PM está publicando os livros do inspetor Maigret em formato de bolso (e preços acessíveis).

Sou fã de Maigret de longa data. O estilo dos livros é diferente dos livros policiais mais conhecidos (como os da Agata Christie). A ênfase está mais na ambientação da trama e na caracterização dos personagens que no crime em si. O final, normalmente, revela uma trama sórdida e personagens com suas vidas dominadas pelas fraquezas humanas. Outra diferença é que Maigret é um policial, o que dispensa as frágeis reviravoltas e coincidências comuns nos livros policiais para levar o detetive ao crime. É também bastante curioso ver o funcionamento da policia francesa e seu estreito relacionamento com a justiça (para começar, Maigret trabalha na Polícia Judiciária).

Sinto também uma certa semelhança entre o comportamente de Maigret durante a investigação e o meu próprio comportamento quando estou debugando um problema, particularmente a sensação de peso e hesitação.

Nem todos irão apreciar o estilo de Georges Simenon, e talvez seja daqueles que só se começa a apreciar depois de ler mais de um. Os interessados não devem ter dificuldade de achar os livros em livrarias (por exemplo, Cultura e Siciliano) e bancas. O livro que acabo de ler é A Fúria de Maigret, na mesma coleção tem Maigret e o Homem do Banco, que também recomendo (a parte em que Maigret vai obter informações sobre o morto no seu local de trabalho é imperdível).

terça-feira, janeiro 10, 2006

Mais um Exame de Certificação

Em 15 de abril de 2003 comprei na Amazon o meu primeiro lote de livros sobre .NET. Entre eles, o MCAD/MCSD Training Guide do Amit Kalani para o exame 70-315 (Developing and Implementing Web Applications with Visual C# and Visual Studio .Net). Meu objetivo, na época, era obter o MCAD até o final do ano. Considerando os exames em que já fui aprovado para obter o MCSD Visual Studio 6, preciso, além do 70-315, apenas mais um exame (70-320).

O ritmo do estudo oscilou conforme a pressão do trabalho e da família. Na metade de 2003 mudei as minhas prioridades e passei a estudar para o exame 70-300 (Analyzing Requirements and Defining Microsoft .NET Solution Architetures), a fim de aproveitar uma oferta de exame gratuito para quem já tinha a certificação em MCSD. Após passar no exame, voltei à inconstância do estudo. De alguma forma, 2004 passou sem que eu prestasse qualquer exame.

Em agosto de 2005, ganhei um voucher de exame gratuito em uma das promoções do TechNet Brasil e defini como nova meta para o MCAD o final de 2005. Em novembro, com o lançamento do Visual Studio 2005, a Microsoft anunciou novos exames (a serem disponibilizados em 2006) e uma mudança radical nas certificações de desenvolvimento. Em meados de dezembro, descobri que o voucher valia apenas até 8 de janeiro. Com este incentivo adicional, entrei em um ritmo acelerado de estudo e no dia 4 passado prestei e passei o exame (agora quase obsoleto).

Para quem não conhece o processo de certificação da Microsoft, eu diria que na essência eles consistem em passar em exames. Você estuda da forma que achar melhor, agenda o exame em um centro autorizado, vai no dia combinado, responde às perguntas no micro e se acertar um número mínimo de questões passou no exame. Tendo passado em um exame, você é um MCP (Microsoft Certified Professional), com direito a diploma, cartão e broche. Determinadas combinações de exames dão direito a títulos adicionais (com diploma, cartão e broche).

A pergunta mais comum sobre certificação é se vale a pena. A minha resposta é que depende do que você espera da certificação. No meu caso, eu comecei a me interessar por certificação no final de 2001, em um momento em que estava com grandes dúvidas sobre a minha carreira. Meus objetivos eram dois: mostrar a mim mesmo que eu era capaz de passar nos exames e aumentar a abrangência dos meus conhecimentos (já que eu trabalhei sempre em áreas bem específicas). Tenho certeza que atingi estes dois objetivos. Não percebi os efeitos colaterais da certificação apregoados por alguns, como aumento expressivo da remuneração, veneração pelos colegas de trabalho e fim da queda de cabelo.

Um outro mito sobre certificação é a sua relação direta com a experiência profissional com o assunto. Eu diria um profissional com anos de experiência terá dificuldades nos exames, pelo fato da experiência tender a se concentrar em algumas tecnologias e os exames serem muito abrangentes. Olhando pelo outro lado, é plenamente possível passar num exame sem ter experiência profissional no assunto. No meu caso específico, tenho usado os exames como incentivo para estudar assuntos com os quais não tenho contato no dia-a-dia e os resultados tem sido positivos.

Para quem ainda pretender prestar o exame 70-315, alguns comentários. O livro do Amit Kalami foi muito bom, além de preparar para a prova ele ensina bastante coisa para quem for usar C# no dia-a-dia. Recomendo fazer toda a parte prática do livro (o que acabei não fazendo na correria final). O exame consta de 43 questões de múltipla escolha, o software deixa bem claro quando é esperada mais de uma alternativa e não deixa selecionar a mais ou a menos. O tempo é mais que suficiente, e ainda se ganha mais 1/2 hora pelo exame estar em inglês. A nota mínima é 700, ou seja, você precisa acertar pelo menos 31 das 43 questões (supondo que não se possa acertar parcialmente uma questão). A redação das questões sofre muito da tentativa de dar uma roupagem "prática" às questões, o que resulta numa enxurrada de informações desnecessárias. Por outro lado, ocasionalmente uma informação vital está escondida no meio do texto, portanto você precisa ler tudo com muita atenção. As questões em si são um segredo industrial da Microsoft e você precisa aceitar um NDA antes de começar o exame. Como levo a sério NDAs, digo apenas que o livro do Amit Kalami cobriu bem o assunto. O nível de dificuldade é suficiente para fazer a maioria das pessoas suar, é importante não entrar em pânico ao ficar em dúvida e lembrar que você não precisa acertar todas as questões para ser aprovado.

Agora é decidir se vou tentar fazer o 70-320. Apesar de também estar obsoleto, o livro está na minha estante pegando poeira...

Enquanto isso, tem gente já fazendo os exames da nova geração.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Meu Primeiro Computador Pessoal

Foto: David Leo

Bem, não exatamente...

Ao final do primeiro ano da faculdade, eu estava fascinado com computadores e arranjei um estágio no IPT. Como mandava a tradição, no primeiro dia me puseram numa mesa com um manual de COBOL para estudar. Algum tempo depois (acho que em 1979) o IPT adquiriu um Cobra 400.

O Cobra 400 era uma máquina esquisita, cuja tecnologia a Cobra adquiriu de uma empresa americana (anos mais tarde a Cobra re-projetaria o hardware e o software adotando o nome Cobra 400 II). Embora fosse às vezes mencionado como um mini-computador, o Cobra 400 era na realidade um sistema de data entry capaz também de executar aplicações. Internamente usava um microprocessador de 8 bits (Intel 8080) com 64 Kbytes de Ram. Suportava até oito terminais (o do IPT tinha 4), cada um com uma tela de 8 linhas de 64 colunas (mapeadas nos 64K de Ram). O armazenamento era num HD de 10 Mbyte (o disco tinha o diâmetro aproximado de um LP), controlado por um outro 8080.

Afora uma linhagem estranha (TAL II), mais voltada para programas de entrada de dados, o Cobra 400 tinha também um compilador Cobol. A primeira versão do Cobol (Level 1) era tão fraca que não tinha nem ELSE no IF e só permitia operação batch (sem interação com o usuário via terminal). A segunda versão era bem decente.

Durante os primeiros meses, a máquina era usada apenas para estudos e frequentemente a tinha só para mim (daí ser o meu primeiro "computador pessoal"). Mais adiante começou a ser usado parte do tempo para digitação e parte do tempo para o desenvolvimento de um sistema (cuja estória fica para outro dia).

Mesmo assim, ainda sobrava algum tempo para brin^H^H^H^Hestudar. O meu ponto alto foi a adaptação para o Cobra 400 de um programa em BASIC. Embora a escola usasse cartões nos cursos, já existiam alguns terminais de vídeo na USP e no IPT. Por alguns dias tivemos acesso ao B6700 e conhecemos o jogo (Colossal Cave) Adventure. Quando perdemos o acesso, ficou a vontade de jogar este tipo de jogo. O número de Dezembro de 1980 da revista Byte foi dedicado a jogos e trazia a listagem completa do jogo "Pirate's Adventure" de Scott Adams. A listagem era em BASIC, para o micro TRS-80. Após uma trabalhosa engenharia reversa, consegui re-escrever o programa no Cobol do Cobra-400 e jogar o jogo até o final.

Como disse Scott Adams no iníco do artigo da Byte, time flies.